Siga-nos no Twitter! Curta nossa fan page no Facebook!

26/01/2011 - 10:35:06

Os Sem-Estádio

Carlos Silva

A temporada de 2011 se inicia para o torcedor ramalhino sem grandes perspectivas. Mesmo com a próxima participação na Copa do Brasil, um prêmio para a grande campanha do time no Paulistão do ano passado e praticamente já esquecida, está muito claro para o torcedor que seu time de coração está descendo a ladeira. Os dois rebaixamentos consecutivos foram um golpe muito duro para a autoestima do torcedor ramalhino, e o início de temporada não está ajudando nem um pouco. Deixaremos de comentar aqui o começo vacilante do Ramalhão no Campeonato Paulista e mais um fracasso na Copinha, pois não é esse o objetivo deste espaço. Apenas deixa-se registrado que esse início cheio de tropeços é consequência da prática reiterada da empresa gestora de trazer grande quantidade de atletas desconhecidos e esperar que como por milagre o time se encaixe. Isso não funcionou na Série B e será uma surpresa se der certo agora.

Mas esse é o menor dos problemas do Ramalhão neste momento. A verdade é que o sofrido torcedor, nocauteado em 2010, mal conseguiu ficar novamente de pé e já foi novamente atropelado por uma verdadeira enxurrada morro abaixo; porque, muito pior que não ter um time de qualidade para despertar a motivação da torcida, é não ter sequer um estádio para jogar.

Quando a FPF divulgou no início do ano que vários estádios paulistas, entre eles o Bruno Daniel, não teriam condição de receber partidas oficiais, julgávamos que fosse o atraso "normal" na tomada de providências e obtenção de laudos, como acontece todos os anos. Mas o tempo passou e todos os estádios vetados acabaram sendo liberados, com exceção de dois: o Novelli Júnior, em Itu, e o Bruno Daniel. Ficou evidente que não era apenas um "atraso" de documentação; havia algo mais sério acontecendo. Culpava-se vagamente a Polícia Militar pela demora na emissão do laudo de segurança, mas como de praxe as informações eram sonegadas à torcida. "Estamos tomando as devidas providências", era o discurso padrão.

Mas chegou a primeira partida em casa contra o Linense, e o torcedor mal informado (não por sua culpa, afinal não temos mídia) deparou-se com os portões do Estádio Municipal totalmente cerrados. Só então veio a público o verdadeiro motivo da interdição do estádio: uma ação movida pelo Ministério Público, com base no Estatuto do Torcedor (ou seria no Código de Defesa do Consumidor?), interditara o setor de cobertas do Bruno Daniel, por falta de segurança, até que se comprove que a marquise não corre risco de ruir ou que se façam as devidas reformas.

E agora? Tenho sérias dúvidas se uma análise estrutural séria, feita por uma empresa especializada em engenharia, irá liberar a marquise; e mesmo que haja a liberação, o torcedor continuará com um pé atrás e pensará mil vezes antes de arriscar-se novamente por ali. Afinal, sabemos que aquela monstruosidade de concreto teve sua última manutenção corretiva  em 1979, quando começou a ceder, e desde então não se fez mais uma intervenção adequada naquele setor. E não é esse o único problema do Bruno Daniel, como os Ramalhonautas nunca se cansaram de denunciar (e pelo visto algum Promotor acabou nos ouvindo): há os banheiros imprestáveis, os vestiários que inundam frequentemente, o elevador que quase nunca funciona, as cabines de imprensa em estado deplorável (situação que o colega Mau teve a oportunidade de conferir in loco e ficou estarrecido com o que viu), etc.

Há uma infinidade de razões para que o Bruno Daniel finalmente receba uma reforma que o coloque em condição digna e compatível com sua história e com sua importância para a cidade. Infelizmente, também há várias razões para que tal reforma não aconteça, e a maior delas não é a falta de dinheiro (pois Santo André tem uma Lei de Parceiras Público-Privadas avançada, que poderia perfeitamente ser acionada para atrair empresas interessadas em modernizar o estádio em troca do direito de exploração comercial de espaços), e sim algo muito pior: a falta de interesse político. Como alguém escreveu na mail list, arrumar o Bruno Daniel seria um investimento muito grande para o pouco retorno político que traria, já que a cidade não tem o mínimo interesse no Ramalhão.

Não se trata de meramente criticar a atual Administração do município, que formulou suas propostas para a cidade e foi eleita justamente para implementá-las, e sim lamentar o esquecimento do Ramalhão pela cidade que representa – de que a situação do Bruno Daniel é apenas reflexo – e a consequente perda de um valioso patrimônio esportivo, emocional, cultural, histórico e até moral, pois há tempos o ECSA é a única citação positiva que a cidade de Santo André consegue ter nas mídias em geral.

Tal afastamento entre time e cidade vem ocorrendo progressivamente, por uma série de razões já bastante abordadas em colunas anteriores, mas parece ter sido acelerado e sacramentado pela atuação desastrada da SAGED em suas relações com o Poder Público e com a própria torcida (a esse propósito, convido-os a ler a matéria "A administração SAGED vista por um ramalhino", de autoria de Rafael Furlan, publicada neste sítio).

A situação é séria e desagradável, mas (ainda) não irreversível. O resgate do valor do Ramalhão para a cidade passa necessariamente pela mudança de atitude da SAGED em suas relações públicas e também em sua competência gerencial, a fim de recuperar a confiança perdida. Um bom começo será negociar com a prefeitura, com a FPF, Polícia Militar, Bombeiros, Ministério Público, CREA e com quem mais for preciso para encontrar uma solução para a interdição do Bruno Daniel. Pois, se o Ramalhão for obrigado a jogar longe de sua torcida, por falta de um estádio na cidade em mínimas condições de uso, nascerá mais um movimento social: além dos Sem-Terra, Sem-Teto e Sem-Mídia (o ABC em geral), também teremos os Sem-Estádio.







 

Ramalhonautas - Balançando a Rede! O Site do Torcedor Ramalhino
®2004/2024 - Todos os Direitos Reservados