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26/11/2010 - 20:14:51

Um ano para esquecer... ou não?

Carlos Silva

A temporada 2010 termina com um gosto amargo para o torcedor ramalhino. Ou talvez possamos dizer "as temporadas", pois neste ano o Ramalhão viveu duas fases completamente distintas: o êxito além do esperado no Paulistão e o desastre total na Série B, em que tivemos campanha semelhante à do Brasileirão em 2009, mesmo enfrentando adversários bem menos qualificados – com o devido respeito a times como Icasa, Duque de Caxias e ASA, que chegaram à Segundona e nela permanecem com méritos, não há como compará-los a Cruzeiro, Internacional, Grêmio ou Flamengo, nossos adversários do ano anterior. E como sempre acontece nesses casos, o torcedor procura identificar os culpados pela tragédia e lançá-los aos leões (é interessante que nunca haja o mesmo empenho para reconhecer os méritos quando o time vai bem), e decifrar o que houve de errado.

É muito forte a tendência de dizer que o Ramalhão foi vítima do próprio sucesso e culpar os dirigentes por haverem promovido ou não evitado o "desmanche" da equipe vice-campeã paulista. Mas tal análise tem menos profundidade que uma poça d'água na calçada, por não ver ou ignorar intencionalmente o óbvio: que o clube e a empresa gestora praticamente não ganharam nada com o famigerado desmanche, pois com exceção do zagueiro Cesinha, negociado com o Vasco, todos os demais atletas que deixaram o Santo André rumo a equipes da Série A tão logo findou o Paulistão eram – ou melhor, são – vinculados a empresários. Para estes o Ramalhão foi uma mina de ouro, que valorizou seus pupilos muito mais do que poderiam imaginar, e aproveitaram para faturar às custas do vice-campeonato. Para segurar jogadores como Branquinho, Carlinhos e Rodriguinho, o Santo André teria que cobrir as propostas feitas por eles – coisa além das possibilidades de uma equipe de médio escalão.   

Apesar disso, conseguiu-se manter a dupla de volantes Alê e Gil, destaques do time no Paulistão, embora fosse visível que na Série B ambos já não mostravam o mesmo empenho e motivação. E também Alê acabou trocando o Ramalhão pelo Atlético Mineiro já no segundo semestre. Deve ter ficado aliviado por escapar do naufrágio.

Não há dúvidas que a debandada do meio do ano fez cair o desempenho da equipe, nem poderia ser diferente, pois um novo elenco teve de ser formado. Mas fato semelhante ocorreu em 2004, e mesmo assim com jogadores recém-chegados o Ramalhão venceu a Copa do Brasil e reverteu na Série B a desvantagem dos 12 pontos injustamente tirados no "tapetão". As causas devem ser buscadas em outro lugar. E também aqui, em minha opinião, entra a nada popular figura do empresário do futebol, conjugada com a visão equivocada da gestão empresarial, que tornaram o Santo André nada mais que uma vitrine para exposição de atletas. Em lugar da qualidade técnica, o que pesou foi o potencial de valorização dos jogadores. A estratégia funcionou bem demais no Paulistão, torneio de tiro curto e intensa exposição midiática, mas foi um fracasso na longa, extenuante e menos valorizada (ao menos no eixo Rio-SP, ou "eixo do Mal" como se diz no Nordeste) Segundona.

Claro que ninguém gosta de ver seu time rebaixado, mas se a queda do Ramalhão pode trazer algo de positivo, será justamente o abandono dessa estratégia de vitrine: afinal, a Terceira Divisão não tem visibilidade e não se presta a valorizar jogador nenhum. Doravante os empresários fugirão daqui, em lugar de formar fila na porta do escritório do Sr. Ronan com um DVD das melhores jogadas de seu pupilo em uma das mãos e uma minuta de contrato na outra. Talvez assim voltemos a aproveitar as revelações das categorias de base, tradição abandonada este ano em troca da, digamos, comodidade mercadológica de receber jogadores "prontos" mas sem maiores vínculos com o time.

Outros fatores que pesaram significativamente, e que os Ramalhonautas não se cansam de apontar e reiterar, são o divórcio entre o clube recreativo e a empresa que gere o futebol andreense e o abandono do time pela cidade que representa. O primeiro fato ainda pode ser revertido, pois são poucas as pessoas envolvidas e não seria tão difícil sentar e chegar-se a um acordo para colocar ECSA e SAGED novamente em sintonia. Já a reversão da situação de desprezo da cidade pelo time é de solução muito mais difícil. Campanhas de marketing como as feitas no passado provavelmente já não surtiriam o mesmo efeito, pois os tempos são outros. Como alguém citou certa vez na lista de discussão, para fazer com que o andreense volte a gostar do time da cidade, será preciso antes de mais nada fazer com que ele volte a gostar da própria cidade, hoje reduzida a nada mais que uma distante periferia da Capital, totalmente ignorada pelas mídias (salvo quando ocorre alguma tragédia como os casos Eloá e Celso Daniel). Sem a volta desse sentimento cívico de amor por Santo André, não há como trabalhar uma identificação entre time e cidade que torne motivo de orgulho torcer pelo Ramalhão.

Para isso a atuação do Poder Público seria fundamental, até porque como contrapartida por divulgar o nome da cidade o Santo André utiliza o estádio Bruno Daniel, patrimônio do município – hoje em sério estado de deterioração pelo passar dos anos e por falta de manutenção adequada. Para levar público aos jogos do Ramalhão, além da motivação acima referida, é preciso oferecer-lhe um estádio em que se sinta confortável e seguro. Infelizmente, nada devemos esperar da Administração atual: o Prefeito declarou recentemente à Rádio ABC que não haverá intervenção alguma no Bruno Daniel em 2011, pois a reforma conforme projeto já existente (reconstrução dos vestiários ao nível do gramado e novo lance de arquibancadas atrás do gol dos fundos) custaria por volta de R$ 50 milhões, dinheiro de que a cidade não dispõe; e que mesmo uma reforma "cosmética" teria custo de pelo menos R$ 5 milhões, e a cidade tem outras prioridades. Ou seja: Santo André não quer o Santo André. (Talvez fosse o caso de perguntar por que não se parte para uma solução privada, como uma PPP, ou que fim levaram os anunciados R$ 6 mi do Governo Federal que seriam destinados à reforma do Estádio. Tais perguntas deveriam ser feitas pelos vereadores. Mas talvez estejam ocupados demais com outros assuntos...)

Termino esta última coluna do ano com uma pergunta aparentemente óbvia: 2010 foi um ano bom ou ruim para o Ramalhão? Minha resposta, ao contrário, não será nada óbvia. Ser rebaixado, repito, não é nada agradável, mas isso não pode anular o excelente resultado do Campeonato Paulista e a consequente classificação para nossa terceira Copa do Brasil. E mesmo o descenso pode, ao final das contas, ter seu lado positivo. Quem me conhece e lê há mais tempo meus textos sabe que acredito na tese que tudo acaba ocupando o lugar que lhe é mais adequado. Talvez as condições hostis do tal "futebol moderno" tornem necessário ao Ramalhão retirar-se da "ribalta" para reestruturar-se e planejar melhor seus passos e seu futuro. Prevejo dois ou três anos difíceis pela frente, mas creio que o ECSA poderá emergir dessa fase revigorado e mais bem preparado para a "guerra". Afinal, ter fé é requisito fundamental para ser torcedor ramalhino.

Boas Festas e, apesar de tudo, Feliz 2011 a todos.







 

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